17/12/2019

Redação Games4U

A Year of Rain é o resgate definitivo dos jogos de estratégia

PC 

A Year of Rain é um título quase nostálgico para os fãs dos jogos de estratégia. Embora tenhamos tido games muito bons para o gênero em 2019, o novo trabalho da Daedalic Entertainment traz de volta um estilo mais brando e aveturesco de RTS (jogo de estratégia em tempo real), algo menos exigente do ponto de vista tático, porém, mais carregado de heroísmo e fantasia.

É uma proposta que não surpreende quando olhamos para as influências do game, que traz uma grande inspiração na franquia Warcraft - especialmente no terceiro capítulo da saga. O título da Daedalic segue o mesmo estilo que conhecemos na franquia clássica da Blizzard, no qual controlamos heróis superpoderosos e diversos esquadrões de soldados, pertencentes a classes variadas. Eles serão postos em combate contra nossos inimigos enquanto construímos fortificações para aumentar nossos recursos e angariar mais aliados que aumentem nossa vantagem em batalha.

Esse é um estilo de jogo que ganhou força há cerca de 17 anos, com o grande sucesso de Warcraft III. As referências ao WoW não ficam apenas no contexto de A Year of Rain, já que sua própria estrutura e até mesmo o layout de menus, com sua organização de inventários e dados das tropas, remetem à aventura clássica de 2002. 

Entretanto, as fortes inspirações não impediram a Daedalic de trazer mais personalidade à aventura, que apresenta um tom mais leve do que as campanhas passadas em Azeroth. Enquanto a franquia da Blizzard trazia uma jornada mais dramática e melancólica, o jogo da desenvolvedora alemã tem uma narrativa mais leve, com um senso de humor mais apurado, com personagens que não se rogam em conversar e fazer comentários espirituosos uns com os outros, apesar dos conflitos e dramas que enfrentam.

Os heróis trazem habilidades e personalidades próprias, que são exploradas ao longo da aventura. Embora as motivações e histórias de muitos personagens não sejam aprofundadas durante a campanha, passamos a conhecer claramente as características principais dos protagonistas do game.

Uma qualidade própria que A Year of Rain parece entender, já que um dos elementos que torna sua jornada empolgante, é justamente como seu enredo investe nos seus personagens e no modo como eles interagem entre si. Na verdade, meus momentos preferidos do jogo são justamente os que controlo apenas os heróis, como um pequeno grupo de RPG, desbravando um mundo misterioso e enfrentando inimigos enquanto conversam, fazem piadas e trocam pensamentos uns com os outros. 

Porém, o título também investe em uma história recheada de conflitos entre nações, em outra influência clara de Warcraft. O jogo, no entanto, é ambicioso no modo como conduz sua narrativa, que não perde a oportunidade de dar um ar grandioso e impactante a jornada que acompanhamos através de diversas cutscenes. Embora as animações presentes nas cenas sejam simples, elas são competentes em transmitir seus acontecimentos. 

Uma pena que o game não tenha esta mesma força em seu design artístico. Apesar do visual de alguns heróis ser interessante, o estilo da maioria dos personagens é apenas genérico - para não dizer datado -, como as arqueiras de roupas supersexualizadas, que poderiam ser interessantes no início da década de 2000, mas que agora são apenas constrangedoras.

O design dos cenários também não foge a esta regra: temos algumas áreas que chamam a atenção pelos seus detalhes mais elaborados, mas que passam facilmente batidas em meio a uma grande quantidade de regiões desinteressantes, que não fazem muito para atrair a atenção do jogador. Aqui, a ambientação é apenas um campo de batalha para colocar suas tropas e aniquilar o inimigo. 

Felizmente, quando entramos nos conflitos o game flui muito bem. A Year of Rain traz uma estrutura cadenciada ao jogador e isto agradou muito. Com um ritmo pausado e que tem um tempo certo para cada tipo de ação, o jogador tem tempo para se acostumar com a estrutura das batalhas, os poderes dos personagens e os detalhes que envolvem a construção de fortificações. Primeiro, jogamos com os heróis e nos acostumamos com suas habilidades; depois passamos para a parte estratégica, com a gestão de tropas e recursos. São missões que sempre trazem algum evento novo ao cenário, seja um herói ou um elemento inédito, como poços de piche que atrasam o deslocamento e que podem ser usados como armadilhas contra inimigos ao serem incendiados.

Mas o game poderia ter encontrado uma forma mais intuitiva e didática de apresentar seus elementos. O jogo toma o cuidado de colocar um tutorial fora da campanha para apresentar os seus conceitos iniciais, mas ele não consegue apresentar informações sobre seus diversos elementos de forma competente ao longo da aventura, deixando que o jogador descubra tudo sozinho - e muitas vezes na base da tentativa e erro, como o momento em que entendi que os tais poços de piche, que citei acima, poderiam ser incendiados. E adivinha como descobri isso? Explodindo meus personagens por acidente.

Claro que até mesmo esta decisão de design remete a um tipo de experiência que também estava presente nos modos clássicos do gênero RTS. Parte da graça do game estava justamente em deixar que o jogador descobrisse por conta própria como o jogo funcionava. Mas este me parece um conceito já ultrapassado, pois a comunicação precária com o jogador pode atrapalhar a experiência daqueles que não conhecem ou não tenham muita familiaridade gênero.

Outra influência negativa dos jogos clássicos e que regressam no game é o seu ritmo excessivamente burocrático em alguns momentos. Dividir o gameplay em momentos muito bem estabelecidos ajuda o jogador a lidar melhor com as particularidades de um game, porém abusar deste conceito deixa a experiência truncada e pouco dinâmica, principalmente quando falamos de um game que tem uma história a ser contada. Um exemplo disso é a forma como temos que voltar a tela inicial do título ao final de cada capitulo, para selecionar o próximo episódio. É uma burocracia desnecessária que apenas atrapalha a progressão do título, que poderia simplesmente começar automaticamente o estágio seguinte.

É uma estrutura que faz com que A Year of The Rain seja um game que apresente um início complicado e pouco convidativo, especialmente para quem está embarcando agora neste gênero de jogo. Porém, conforme passamos a conhecer as táticas do game e os seus conceitos, vamos nos envolvendo na aventura e a campanha vai se tornando mais divertida. Após alguns capítulos estamos já familiarizados com o que o título espera que façamos e tudo flui mais naturalmente e de forma divertida, em que passamos a analisar nossas possibilidades para implantar uma estratégia que nos caiba, analisando nossas fortificações e montando nosso exército para a batalha. 

Quando a luta começa, a situação se torna interessante justamente porque a burocracia que encontramos na estrutura básica do game não existe em suas mecânicas. Dar comandos aos personagens é simples e rápido, assim como controlar nossos heróis, que trazem habilidades sempre úteis, que se completam aos outros companheiros do grupo se forem explorados corretamente. 

O único complicador acaba sendo a Inteligência Artificial dos personagens, que se mostra um pouco precária quando temos muitos combatentes em tela. Não foram poucas as vezes que acabei me estressando quando personagens se bloqueavam uns aos outros ou não atacavam quem estava mandando. E esse é um problema que fica mais aparente quando os mapas apresentam cenários apertados - algo presente principalmente no início das campanhas.

Entretanto, A Year of Rain é um jogo divertido, com um universo interessante e heróis carismáticos. Além da campanha principal, os outros modos nos permitem conhecer um pouco mais dos outros personagens e a estrutura multiplayer é agradável de se acompanhar, principalmente o modo cooperativo, que se mostra a melhor opção pela forma como podemos dividir os heróis com um parceiro e aproveitar melhor o jogo sem se preocupar em controlar diversos personagens com várias habilidades próprias. 

A Year of Rain chega como um remanescente do gênero de estratégia que estava um pouco sumido desde que Warcraft migrou de vez para o universo online, trazendo uma jornada que não esconde suas influências, porém também não se intimida em dar um pouco de personalidade a fórmula que o inspirou. 

FICHA TÉCNICA
Lançamento: 6/11/2019
Estúdio: Daedalic Entertainment
Editora: Daedalic Entertainment
Plataforma: PC

(Rafael Barbosa)

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