18/12/2017

Redação Games4U

Review de Inside: sucessor de Limbo é ainda melhor

iOS, Xbox One, PS4, PC 

Por volta de 2010, a cena de jogos independentes estava em plena ebulição. Amnesia: The Dark Descent se encarregava, sozinho, de revitalizar o gênero horror, enquanto outros títulos extremamente expressivos, como Super Meat Boy e Braid, mostravam novos mundos de possibilidades a um sem fim de jogadores. Limbo, sem dúvida nenhuma, também entrou para esse seleto grupo, assim como Inside o faz agora, tantos anos depois.

Não é nada fácil contar uma boa história, não importa qual mídia escolhida para isso. Videogames travam lutas incessantes contra péssimos roteiros, permeados de personagens moldados com clichês em buscas repetitivas e com propostas desgastadas. Em meio ao marasmo das grandes produções, são aquelas menores, independentes, quem acabam por se destacar. Limbo, sem intermédio de palavras ditas ou escritas, gestos ou qualquer outro tipo de comunicação mais convencional, entregou uma trama muito macabra, interpretativa ao extremo. Inside aposta no mesmo formato, porém consegue mergulhar ainda mais nesse contexto – e devo dizer serem essas águas muito, muito profundas.

Pouco ou nada era sabido sobre Inside antes de seu aguardado lançamento. Num mundo onde a concorrência acirradíssima pede por campanhas de marketing cada vez mais expositórias e agressivas, Inside já se provava distinto antes mesmo de chegar às mãos dos jogadores. Um certo receio surgiu por consequência, mas foi bom duvidar da Playdead, pois o resultado final acabou superando as expectativas até mesmo de grandes fãs de Limbo. E acredito fazer parte desse grupo.

Tendo em mente a aura de mistério mantida pela Playdead até hoje, seria disparate de minha parte revelar muito da trama de Inside. Sim, controlamos um garoto num mundo extremamente opressor e sim, o cerne é ainda mais macabro e sombrio do que vimos em Limbo. A princípio, perseguição; solidão por toda extensão dessa sombria jornada. O menino conseguiu escapar de algum lugar e está sendo procurado pelas pessoas (adultas, vale menção) gerenciadoras desse lugar. E que lugar é esse? Bem, parte da surpresa está na descoberta e na forma como o jogo consegue dialogar entre suas partes de forma bastante particular.

Talvez a maior qualidade de Inside seja sua consistência. Desde sua tela de início, toda preta, trazendo o nome do jogo em letras vermelhas garrafais, até o hud limpíssimo, a total ausência de tutoriais e o clima criado por consequência - esses elementos iniciais competem a soma das partes, resultando numa obra digna de figurar entre as mais significativas da memória recente dos videogames. Ao menos no que tange apelo estético.

Inside

Redação Games4U

Inside

Inside é minimalista em sua abordagem, mas fragmentado em seus sistemas de jogo. Ao apresentar a movimentação do personagem, descobrimos ser ele capaz de empurrar e puxar objetos, da mesma forma e com a mesma física aplicada ao menino de Limbo. É prazeroso controlar nosso herói rebelde – seus movimentos são naturais e altamente responsivos aos controles. A paralaxe dos cenários, no entanto, está mudada, pois a interação é realizada com objetos posicionados sutilmente mais ao fundo. A fluidez é, portanto, acentuada em conjunto com o quão intuitivo tudo se apresenta. Ao encontrar uma plantação de milho, por exemplo, a perspectiva 2,5 D mostra como é possível empurrar a cerca, passar por entre ela ou por cima dela.

Menos plataforma e mais resolução de quebra-cabeças: é preciso apontar haver aqui a mesma dinâmica apresentada em Limbo, porém com essa distinção. Minha crítica para com a primeira obra da Playdead é mantida, afinal, num jogo que prima pela genialidade de seus momentos, resolvê-los de forma única, não havendo espaço para imaginação ou criação, se mantém frustrante.

As partes fragmentadas circundam mecânicas de jogo, elementos de trama e mundo desenrolado. Descobrir ser capaz de controlar verdadeiras marionetes humanas por intermédio de uma aparato cerebral, faz sentido com aquele momento da jornada e pode, ou não, voltar a ser utilizado no futuro. Nadar e mergulhar, descobrindo as capacidades físicas extremamente limitadas do garoto, são habilidades ligadas ao que já descobrimos até aquele momento – a morte está sempre a um sopro de distância e o método de “tentativa e erro” se aplica.

A genialidade desse formato é tão intrínseca aos elementos de Inside que até mesmo as conquistas fazem parte disso. A exemplo do também excepcional Brothers, cujos pontos de Gamerscore estão interligados a descobertas de elementos de cenário e desenvolvimento de seus personagens e mundo, Inside extrapola, oferecendo sistemas próprios para quem resolver explorar ainda mais seus segredos.

São cerca de três horas para chegar ao final desta macabra jornada e talvez o dobro do tempo para revelar todos os locais escondidos. Mas gosto de pensar da seguinte forma: nada em Inside é mundano. Mãos dadas ao valente garoto, descobrimos a realidade desse mundo cruel de forma inexorável – medo e bravura caminhando lado a lado. A curiosidade humana levada a enésima potência do grotesco, a beleza da carne incontrolável aliada a fragilidade e inocência da infância. Inside é ousado sempre que resolve abandonar difíceis construções passadas e partir para algo novo, e isso acontece incessantemente.

Vou mais fundo: ninguém está preparado para a meia hora final desse jogo. O choque é meramente consequência de um fundamento extremamente sólido, criado e lapidado por tantos anos, com visão clara. Talvez precisemos esperar mais seis anos pelo próximo jogo da Playdead? Eu não me importaria.

(Makson Lima)

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