Obrigado, Sega! Sério. Muito, muito obrigado mesmo.
Se meu teclado fosse WhatsApp, o parágrafo seguinte seria
constituído exclusivamente de emojis de coração. Tudo bem, tem um
ano de atraso aí, mas finalmente a prequel da franquia de jogos de
ação sobre a máfia japonesa - Yakuza 0 - enfim chegará em
águas ocidentais, com direito a opções de aúdio que abracem os dois
hemisférios do mundo.
O jogo, uma prequel do Yakuza original, nos
coloca mais uma vez na pele de Kazuma Kiryu - aqui, um membro
júnior do tradicional crime organizado nipônico que vê tudo dar
errado depois de uma simples cobrança de débito, apesar da módica
quantia devida. Kazuma pressiona o devedor que, dias depois,
aparece morto. Vendo a sua tímida reputação no ranking da Yakuza em
jogo, ele agora deve descobrir o que exatamente aconteceu, enquanto
transita por um Japão ambientado na década de 1980, investigando e
batendo em muita gente no caminho para chegar ao fundo desse
mistério.
O charme desta edição - originalmente lançada com
exclusividade no Japão em 2015 - é não apenas levar a série
Yakuza a uma espécie de recomeço, narrando uma história
que antecede ao primeiro jogo, criando um pano de fundo para que
seja possível capitalizar no sucesso que elevou o Yakuza
(ou Ry Ga Gotoku, para os japoneses) ao status de “cult
game”. Mais além, ele introduziu a possibilidade de jogar com Goro
Majima, um dos personagens mais cativantes da série.
Particularmente, eu sempre achei que a Sega estava
aos poucos perdendo a mão com a franquia (eu nunca entendi bem a
razão de Yakuza of the End existir). Os dois primeiros
jogos foram escritos por Hase Seish, famoso autor de novelas e
obras literárias centradas no universo do crime organizado japonês,
um dos mais populares no mercado nipônico. Do terceiro jogo em
diante, ele deixou de atuar na série, o que se nota em detalhes
perdidos dos enredos de cada jogo. Yakuza 0 é uma chance
de redenção, um retorno às origens.
Embora o tom seja o de refrescar a memória dos mais
saudosistas com uma ambientação, visuais e enredo ligados ao
primeiro jogo, há coisas relativamente novas, como o gerenciamento
de negócios e a possibilidade de se ganhar dinheiro de forma
“honesta”. Mais além, é muito interessante ver como certas coisas
no distrito de Kamurocho, onde se dá o desenrolar da narrativa,
acabaram ficando.
A inclusão de Goro Majima como personagem jogável
também não é nenhuma novidade, mas não deixa de ser uma adição
bem-vinda: depois do próprio Kazuma, ele acabou tornando-se um dos
personagens mais lembrados pelos fãs devido ao seu jeito canastrão,
que o torna em iguais partes engraçado e perigoso (admito que, no
primeiro jogo, a luta que mais me irritava era a que tinha ele
justamente como chefe).
Aliado ao fato de que ambos os personagens terão três
estilos diferenciados de artes marciais para serem usados em
combate, isso oferece uma variedade nunca antes vista de movimentos
e finalizações com o Heat Mode.
O aspecto visual também deve impressionar, já que
Yakuza 0 foi o primeiro da série a ser lançado para
PlayStation 4. Como muito da cultura japonesa - especialmente no
que tange a histórias policiais - tem forte base no apelo aos
olhos, pode-se esperar que isso também seja um deleite.
Dada a bagunça que a Sega fez com a franquia,
trazendo apenas alguns poucos títulos para águas ocidentais,
remasterizações que nunca chegaram por aqui e a ausência de
densidade da franquia fora do setor asiático, Yakuza 0 foi
uma bela surpresa, ainda que atrasada por um longo ano.