GAMES 4U
 
23/06/2017

Redação Games4U

Vagando sem rumo pelo espaço com No Man's Sky

Aventura, PS4, PC 

Nenhuma pessoa que trabalhe com games ou simplesmente goste muito de jogar poderia ficar indiferente às promessas da desenvolvedora independente Hello para seu projeto No Man’s Sky: um universo virtual inteiro para explorar, cerca de 18 quintilhões de planetas (mais exatamente 18.446.744.073.709.551.616) que você pode visitar - e um deles você pode nomear como seu e dar formas à fauna, flora e civilização. Você precisaria viver alguns bilhões de anos se quisesse explorar um a um dos planetas do game. E se você quisesse simplesmente ir de uma ponta a outra desse universo sem parar em nenhum planeta, somente vendo todos eles como pontinhos de luz no horizonte, levaria 100 horas inteiras. Com essas estatísticas todas tão impressionantes, como não ficar babando pelo momento de começar a jogar No Man’s Sky? Sim, sim, sim! Bom, mas aí entra aquela história de Expectativa vs. Realidade…

Assim que começa, você é jogado no espaço com bilhões de pontinhos de luz da galáxia. Cada um é um planeta. Você escolhe um aleatoriamente, desce lá e terá toda um planeta só seu para explorar. O jogo usa o famoso Sistema Procedural que alguns games usam para gerar fases aleatoriamente. Aqui, tudo (fauna, flora, clima) é gerado aleatoriamente, por isso as combinações alcançam esses números estonteantes. Na primeira hora o jogo é sensacional, na quinta começa a cansar e na oitava você já fica entediado. Simples assim.

O fato é que a premissa do Sistema Procedural é tornar tudo sempre novo e diferente, mas na prática ele se mostra repetitivo, maçante, pois todas as ideias de exploração ilimitada acabam tornando o jogo sem alma. Sim, é um conceito bem subjetivo, mas a gente simplesmente não consegue criar aquela empatia que flui de maneira tão natural em grandes projetos como GTA V, Red Dead Redemption, Valiant Hearts: The Great War e Uncharted 4, só para citar alguns.

O fato é que após 10 ou 12 horas de jogo, não temos nada de novo nos campos de upgrades, combates ou craftings, pois apesar do sistema de escolhas aleatórias, tudo acaba convergindo mais ou menos para situações óbvias. OK, todos os planetas obedecem as leis básicas da Física e um lugar mais próximo de sua estrela tende a ser mais quente e desértico do que aqueles mais afastados, que consequentemente são frios e inóspitos. Além disso, formas de vida somente poderão ser encontradas nas chamadas Zonas de Goldilocks, termo utilizado na astronomia para designar as áreas do universo em que a vida pode se formar sem os efeitos inconvenientes da radiação solar. Mas nada disso consegue criar de fato uma empatia com o jogador.

Pesa bastante o fato de não haver uma história central definida em No Man’s Sky. O jogo é basicamente como um Minecraft gigante, porém, sem todas as possibilidades de construção, ou seja, você mesmo define e cria sua história. É incrível que o estilão quase tosco de Minecraft consiga ter mais alma do que a densidade técnica de No Man’s Sky, mas é exatamente isso que ocorre aqui.

No Man’s Sky nos leva até mesmo a questionar: o que torna um game bom de verdade? Isso é de fato quantificável? Mecânicas de ação? Design de fases? Personagens? Cenários? Curiosamente, todos esses aspectos de No Man’s Sky são tecnicamente bons. Mas parecem coisas desconectadas, não há uma harmonização entre eles. E há um desbalanceamento grave, em que determinados aspectos funcionam muito bem e outros parecem nem ter sido desnvolvidos completamente ainda.

O sistema de geração aleatória dos planetas, ainda que deixe tudo desalmado, funciona de maneira brilhante, cumpre bem seu papel. Já os sistemas de combates são pobres e os de sobrevivência são muito limitados. Muitas vezes a sensação de se estar em uma versão espacial e sem graça de Minecraft chega a ser quase insuportável.

Minha experiência pessoal começou após uns cinco minutos vagando sem rumo pelo espaço sideral, antes de escolher um planeta bem longínquo. Chegando lá, tudo é muito colorido, com cara de mundo paralelo cheio de plantas estranhas e algumas cavernas multicoloridas. Por cerca de uma hora explorei o local, que continha um sistema de vigilância que de alguma forma me lembrou GLaDOS, de Portal, mas sem o sarcasmo da voz maravilhosa da atriz Ellen McLain. Adentrei as cavernas até chegar em labirintos gerados aleatoriamente, que na verdade foram o primeiro sinal de que o sistema poderia cansar antes do que se imaginava.

Quando cansava de um lugar e decidia não dar nome a ele ou subir as “preferências” para o servidor do jogo, acabava indo tentar a sorte em outros planetas. A viagem em si ao se deixar um planeta rumo a outro é muito legal, me fez lembrar os melhores momentos de seriados antigos como Star Trek ou Perdidos no Espaço (é, sou “véio” mesmo, e daí?). Chegando a outro planeta encontrava cores diferentes, clima diferente, ilhas flutuantes, cavernas sombrias, mas tudo parecia ser apenas fruto de escolhas binárias aleatórias que cativam muito menos do que o hype do projeto prometia.

No Man's Sky

Redação Games4U

No Man's Sky

O tutorial do jogo é basicão e muitas vezes só na base da tentativa-e-erro conseguimos fazer algum upgrade na nave, por exemplo. De fato, sem fuçar em fóruns e blogs na internet é bem provável que você mal consiga ir de um planeta a outro ou construa alguma edificação. OK, é lógico que gamer que é gamer gosta sim de descobrir as coisas sozinho, mas aqui a coisa chega ao ponto de você simplesmente ficar empacado sem ter a menor ideia do que fazer ou do que buscar para consertar uma nave avariada, por exemplo. Como eu poderia saber que preciso alimentar um bicho amigável para colher o cocô dele, que servirá de combustível pra nave?

Além dos Sentinelas chatos, mas meio burros, vez ou outra você pode ter que sair no braço com algum tipo de forma alienígena. Nesse quesito, eles lembram os “bichos” do velho Spore: podem ser visualmente diferentes, mas todos agem do mesmo jeito - seja uma aranha gigante voadora ou um dinossauro flutuante, eles vagam sem rumo e atacam quando veem você. Simples assim.

Talvez a ideia de No Man’s Sky seja de fato revolucionária e só em cinco ou sete anos ela fará sentido após um polimento maior desse sistema de geração aleatória de conteúdo. Agora, neste exato momento, no entanto, é apenas um projeto que prometeu demais e entregou de menos.

(Fernando Souza Filho)

 

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