GAMES 4U
 
24/08/2017

Redação Games4U

Tacoma é um drama espacial (muito) humano

Puzzle, Aventura, Xbox One 

A narrativa é hoje uma parte fundamental de muitos games. Conforme os consoles evoluíram em termos de tecnologia, os desenvolvedores também encontraram formas cada vez mais elaboradas de contarem as histórias de seus jogos, seja através de produções muito parecidas com filmes hollywoodianos, como acompanhamos em Uncharted, ou mesmo sem dizer uma única palavra, como vimos em Inside. Antes renegado a umas poucas linhas, esquecidas em um manual qualquer, hoje a narrativa nos jogos é um elemento muito importante, tornando-se muitas vezes mais relevante que o próprio gameplay.

Quando Gone Home foi lançado, em 2013, a desenvolvedora americana Fullbright Company conseguiu arrebatar a crítica e a comunidade independente de jogos com um título que contava uma história simples, mas que trazia uma profundidade e maturidade emocional que não estávamos acostumados a ver na época. Quase quatro anos depois, o estúdio nos apresenta seu novo projeto, em um título mais ambicioso, mas que ainda mantém as relações humanas como sua força motriz.

Somos levados à Base Lunar Tacoma, uma estação orbital habitada por um grupo de pessoas que se veem diante de uma situação desesperadora quando um acidente coloca suas vidas em risco e praticamente os sentencia à morte, caso eles não tomem alguma atitude.

O que aconteceu com esta tripulação? Eles conseguiram se salvar? Estas são algumas das perguntas que você terá de responder ao longo do game.

Quando embarcamos na Tacoma, todo o incidente envolvendo sua tripulação já aconteceu e cabe a você investigar o destino daquelas pessoas. Temos que visitar os principais setores do complexo espacial e recolher os registros da tripulação, transmitidos através de um sistema de realidade aumentada que gravou os últimos dias daquela equipe - e que na prática funciona como uma espécie de vídeo de realidade virtual que podemos avançar ou retroceder da forma que quisermos.

O sistema cria um divertido "quebra-cabeças humano", no qual temos que unir todas as informações possíveis ao acompanharmos uma cena sob diversos ângulos, já que uma gravação pode envolver várias pessoas que não estão necessariamente no mesmo local. Vamos supor que um desses registros mostre três pessoas conversando em uma sala, quando uma quarta tripulante entra no recinto: o que este quarto indivíduo fazia antes de participar da conversa? Podemos voltar a cena desde o início e acompanhar o que esta pessoa fazia antes de interagir com os demais, descobrindo um outro ponto de vista de uma mesma cena, o que pode nos dar uma perspectiva ou informação completamente nova dos fatos. 

A mecânica é uma das bases do game e funciona muito bem, pois deixa que o jogador tenha um controle completo da situação e, principalmente, por nos permitir conhecer mais sobre a tripulação da Tacoma, já que toda a experiência do game se baseia em fazer com que o jogador conheça aquelas pessoas e crie uma empatia com elas.

Assim como Gone Home, Tacoma é focado na história que está sendo contada e assim não existem inimigos a serem combatidos, grandes cenários a serem explorados ou desafios a serem solucionados, é apenas você conhecendo outras pessoas que passam por dilemas com os quais você pode ou não se relacionar. A genialidade da FullBrigth está justamente em tornar esta experiência “simples” em algo interessante e emocionante.

Cada tripulante que estava à bordo da estação é um indivíduo distinto, com preocupações, amores e personalidade própria. Conforme avançamos no game, passamos a conhecer cada um deles profundamente, seja através de diálogos com outros personagens ou por elementos espalhados pelo cenário que mostram quem é aquela pessoa e qual a relação dela com a família, o trabalho, com os companheiros e com a própria vida.

Claramente existiu uma grande preocupação do estúdio na construção de cada um desses personagens, pela forma como a personalidade deles é bem trabalhada pelo roteiro, que brilha ao apresentar cada um como figuras humana e que, apesar de habitarem um mundo fantástico, convivem com emoções e sentimentos com os quais facilmente nos relacionamos.

Embora aquelas pessoas estejam habitando uma estação espacial e falem com naturalidade de viajens pelo espaço, podemos reparar que uma não está satisfeita com os rumos de sua carreira, a preocupação de outra em pagar a faculdade do filho, como a vida daquela pessoa foi afetada pela perda de um ente querido, entre tantas outras situações que refletem a realidade de qualquer um. A forma como o jogo insere esses dilemas “mundanos” em seus personagens para que o jogador possa encontrar uma identificação com eles é um acerto genial do roteiro.

Mas o game não deixa o seu universo desamparado e nos apresenta seu mundo de forma gradual e através de pequenos textos nos mostra quais são as regras deste mundo de grandes corporações, já que estes elementos também têm impacto na história, definindo o passado e o futuro dos personagens.

Apesar da ousadia de suas mecânicas e da elaborada construção de seus personagens, o game demonstra uma surpreendente falta de ambição em sua história. Ainda que consiga construir sua narrativa de forma interessante, ele a encerra de forma abrupta, utilizando uma solução desinteressante para o problema enfrentado pela tripulação da Tacoma.

Como uma mãe que conta uma história para o seu filho, mas percebe que já passou da hora de dormir, o game encerra sua trajetória de uma forma apressada e sem o devido cuidado, o que nos leva a crer que talvez a finalização do game tenha sido apressada em sua etapa final. O resulto é um desperdício de uma ótima galeria de personagens e de um universo igualmente interessante.

O final pode ter decepcionado, mas a jornada por este universo valeu a experiência. Torci verdadeiramente por cada uma daquelas pessoas, presas naquela estação espacial, o que claramente era o objetivo deste jogo, que mais uma vez nos mostra que grandes histórias são construídas por seus personagens e que, por mais divertido que seja apertar os botões de um controle, um game pode ser muito mais do que isso.

Tacoma

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Tacoma

(Rafael Barbosa)

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