GAMES 4U
 
30/10/2018

Redação Games4U

Fortnite cria novo caminho para as mulheres nos e-sports

E-Sports, Tiro, Multiplayer, MMO, 

Dez segundos. Foi o tempo que demorou para um dos companheiros do esquadrão de Fortnite de Kristen “Kittyplays” Valnicek chamá-la de “p--a” depois que ela falou pela primeira vez no chat de voz.

Streamer em tempo integral desde 2013, Kittyplays não se surpreendeu tanto com o assédio quanto com sua fonte: um menino de 11 anos de idade. Ele estava recitando de cor uma palavra que era jovem demais para entender completamente.

“É pela reação, pela ascensão”, disse Kittyplays. “Eles nem sabem o que isso significa; acabaram de ouvir um dos amigos dizerem. Com a internet hoje em dia, não acho que seja algo que você possa evitar. Eu só acho que eles têm que aprender melhor”.

Veja a Kittyplays em ação:

(Se o vídeo não abrir, clique AQUI)

Onde eles aprenderão melhor e de quem? O nível mais alto do competitivo de videogame sempre foi um clube de garotos cujos ensinamentos e normas culturais são definidos por seus membros insulares e monolíticos. Os garotos serão garotos porque sempre houve garotos para ensinarem. O desenvolvimento de profissionais aspirantes existiu unicamente através da emulação de jogadores homens mais velhos, que transferiram suas crenças e preconceitos para a próxima geração como traços hereditários.

Quebrar essa tradição fechada é necessário faz um tempo, e é o Fortnite que está com a picareta na mão. A insistência intencional da Epic Games em apresentar jogadoras populares e qualificadas nos mais altos níveis de seu esporte eletrônico é algo sem precedentes. Nenhum outro jogo do tamanho de Fortnite já integrou os melhores talentos masculinos e femininos a este ponto, torneio após torneio, presencial após presencial.

Stephanie “FemSteph” Driscoll

Os efeitos estão apenas começando a se materializar. Stephanie “FemSteph” Driscoll está na indústria de games há mais de uma década, tendo trabalhado na GameStop durante a faculdade e depois anos nos departamentos de comunicação da Electronic Arts e da Ubisoft. Em 2015, ela se tornou uma streamer de tempo integral na Twitch, e neste verão ela jogou no Fortnite Pro-Am e no torneio Skirmish de verão. É difícil explicar o que significou para uma veterano da indústria como FemSteph ver homens e mulheres competindo no mesmo campo.

“Ver tantas mulheres envolvidas foi incrível”, afirmou FemSteph. “Mesmo no Pro-Am, quando a [Epic] sediou este gigantesco torneio em um grande palco ao vivo, mais de 5 milhões de pessoas assistiram, havia profissionais que eram mulheres, mas também havia celebridades que eram mulheres... É realmente inspirador como mulher ver a virada da maré, ter mais pessoas envolvidas em algo tão dominado pelos homens. Estou muito orgulhosa e empolgada de fazer parte disso”.

FemSteph não se envolveu no torneio Skirmish de outono apesar de ter sido escolhida pela Dusty Dogs, optando por explorar outros jogos como Assassin's Creed: Odyssey, Red Dead Redemption 2 e Fallout 76 para seus mais de 215 mil seguidores. Fortnite não ficou obsoleto, mas, neste ponto de sua carreira, FemSteph se vê menos como uma jogadora profissional e mais como uma influenciadora que ajuda os jogos ao longo do caminho. O mesmo acontece com Kittyplays, que, apesar de ter sido a jogadora com mais vitórias em Fortnite (ela terminou em terceiro no Pro-Am com o ator Chandler Riggs e está em primeiro lugar no ranking de premiações com US$ 25.700), está relutante em desistir da vida que vive atualmente para treinar por horas a fio.

“Fiz os dois anos de streams de 12 a 14 horas para transformar meu canal na Twitch no que ele é hoje, e isso me consumiu”, explica ela. “Percebi que eu quero uma mistura de família e amigos, o lado comercial das minhas transmissões e viajar. Essas são todas as coisas que são realmente importantes para mim, e eu acho que é algo que você vê esses jogadores profissionais terem que desistir para treinar por 10 a 12 horas por dia”.

Nesse mesmo sentido, Kittyplays recentemente aceitou uma posição na Gen.G como chefe de novas iniciativas de jogos, onde será responsável por expandir o envolvimento da Gen.G em novas fronteiras de jogos como Fortnite. A contratação ocorre em meio a uma enxurrada de contratações femininas de Fortnite pelas principais organizações de esportes: Maria “ChicaLive” Lopez pela Team SoloMid, Rachel “Valkyrae” Hofstetter pela 100Thieves e Tina “TINARAES” Perez e Madison “maddiesuun” Mann pela Gen. G Esports.

Madison "Maddiesuun" Mann

Diretor de parcerias da Gen.G, Jordan Sherman sabia exatamente o que estava fazendo quando assinou com uma dupla feminina. Ele notou a forma como a Epic cultivou uma sólida mistura de jogadores masculinos e femininos e viu uma oportunidade de causar impacto como a primeira equipe sul-coreana de e-sports baseada inteiramente nos Estados Unidos.

“Quando começamos a olhar para algumas das jogadoras, notamos que elas eram melhores que alguns dos caras”, disse Sherman. “O trabalho em equipe é ótimo; a comunicação delas é ótima; os pontos fortes e fracos delas se equilibram. Maddie e Tina têm essa grande ligação. Quando as conhecemos, tudo nelas emanava vontade de ganhar e trabalho em equipe, tudo o que nossa organização defende. Por isso, as recrutamos ativamente, levamos suas famílias para São Francisco para nos encontrarmos com os donos da organização e assinamos um contrato profissional com elas”.

A contratação de duas jogadoras hábeis alinha-se com o objetivo de longo prazo de Kittyplays de criar mais avanços no espaço de e-sports para mulheres e meninas. É parte da razão pela qual ela criou um servidor de Discord apenas para mulheres: para ajudar a criar os modelos de papéis femininos que ela nunca teve enquanto crescia.

Quando era adolescente, um ambiente como o de Fortnite não existia para as jogadoras serem vistas de forma positiva. A grande quantidade de toxicidade que Stephanie “missharvey” Harvey, do Counter-Strike, e que Sasha “Scarlett” Hostyn, de Starcraft 2, receberam dificultou a aspiração a vidas como a delas. Na mente da Kittyplays, Fortnite tem a "trifecta" necessária não só para estimular jogadoras, mas tornar suas vidas atraentes para as crianças: um desenvolvedor investido em talentos diversos, influenciadores entusiasmados com o jogo e uma base de fãs aberta para apoiar as jogadoras.

“O que Fortnite fez foi permitir que essas mulheres jogassem profissionalmente e ser um bom exemplo para garotas e garotos”, afirmou Kittyplays. “Eles podem olhar para alguém como eu e dizer: ‘Minha nossa, a Kitty ficou em terceiro no Pro-AM. Isso é muito legal; ela é uma garota que fez isso. Quero ser como ela quando crescer’”.

“Acredito que definitivamente veremos mais mulheres nos próximos três a cinco anos, que têm entre 13 e 17 anos agora, entrando no cenário e buscando essa carreira por verem a reação positiva que tenho tido por estar aqui”, garantiu ela.

Kristen "Kittyplays" Valnicek

O que nos leva de volta aos garoto de 11 anos que, para seu crédito, imediatamente pediu desculpas para Kittyplays pelo xingamento. Ela o perdoou. Não demorou muito para o menino perceber que sua companheira no jogo não era a noob que fingia ser.

“Por que você é tão legal comigo?”, perguntou ele em certo ponto.

“Porque você é legal comigo!”, respondeu Kitty.

Logo, aquele menine de 11 anos estava se abrindo para ela sobre ter perdido o pai para um ataque cardíaco, ser intimidado na escola e ver sua mãe solteira criar cinco filhos. Em pouco tempo, ambos estavam em lágrimas, e ao final da transmissão Kittyplays e seus seguidores haviam arrecadado mais de US$ 500 como presente para a mãe do menino.

“Eu sempre disse que os videogames têm um grande propósito em ensinar às crianças como interagir com outras pessoas, sobre liderança, sobre orientação”, cravou Kittyplays. “Se você está jogando sozinho e preenchendo duplas ou esquadrões [em Fortnite], você está conseguindo fazer com que outras três pessoas trabalhem juntas pelo mesmo objetivo. Você aprende como navegar pelo mapa e aprende como navegar pelas pessoas.”

(Miles Yim/ESPN Brasil)

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