GAMES 4U
 
22/04/2019

Redação Games4U

Fim de uma era: o legado de PraY para League of Legends

E-Sports, Tiro, Multiplayer, MMO, PC 

Em 21 de outubro de 2016, uma flecha de gelo atravessou Summoner’s Rift em uma das arenas de esporte mais famosas do mundo, a Madison Square Garden em Nova York.

Nas semifinais do Mundial de League of Legends, a flecha parecia se mover em câmera lenta, acertando Lee “Duke” Ho-seong, da SK Telecom T1, no meio de uma tentativa de volta à base que era atacada. O arqueiro da dita flecha, Kim “PraY” Jong-in, continuou a atacar o coração da SKT, com sua equipe logo atrás. A ultimate da Ashe que atravessou o mapa ajudou a ROX Tigers a vencer seu primeiro jogo na série melhor de 5.

Eu estava sentado na arquibancada superior do Garden assistindo ao que eventualmente se tornaria (e ainda é) uma das melhores partidas na história dos e-sports. Enquanto produzíamos nossos vídeos de pré e pós-jogo naquela noite, ao meu redor estavam olhos que nunca haviam assistido League of Legends antes ou mesmo jogado videogame — pessoas vindas de esportes mais tradicionais.

Mas no momento em que a flecha de PraY voou pelo mapa e atingiu seu alvo, levando o estádio lotado a ficar de pé, todos sabiam que tinham presenciado algo especial.

Apesar daquele momento de uma série cheia de lances inesquecíveis ainda ser o lembrado com mais carinho até hoje, a ROX Tigers perdeu. A SKT, maior rival da ROX depois de derrotá-los na final do ano anterior, havia triunfado mais uma vez. Mesmo com os gritos do público de Manhattan para a Tigers enquanto a equipe saía do palco, aplaudindo seus esforços, PraY, a estrela do time que chegou tão perto de tantos títulos mundiais, nunca retornaria a uma semifinal. Este seria seu momento final no palco mundial com a ROX Tigers.

Quase três anos após a “Flecha que deu a volta ao mundo”, PraY anunciou sua aposentadoria em uma transmissão no sábado (20), citando falta de confiança em jogar em um nível profissional como motivos para pendurar o teclado e o mouse.

(Se o vídeo não abrir, clique AQUI)

Seguindo o início de sua carreira como jogador profissional em 2012, na NaJiN Sword, PraY venceu o campeonato sul-coreano em três equipes diferentes. Ele chegou cinco vezes ao mundial, fazendo sua última aparição em uma grande final no ano de 2015. Nas cinco oportunidades, PraY perderia para o eventual campeão mundial na fase eliminatória, atuando como “o criador de reis” ao invés de “rei”.

Por toda sua carreira, PraY foi Sísifo, empurrando uma enorme rocha por uma colina apenas para vê-la descer tudo de volta quando estava próximo de alcançar o topo. Mas isso nunca pareceu afetá-lo por muito tempo. PraY era um brincalhão despreocupado, posando e sorrindo para a multidão, fofo como um urso de pelúcia apesar de suas feições fortes. Jogador mais alto do League of Legends na Coreia do Sul, ele se destacou perante sua oposição, figurativa e literalmente, tornando-se rapidamente um dos melhores atiradores do país e, em seguida, um dos melhores do mundo.

Por trás do exterior fofo e alegre, no entanto, havia um homem em uma encruzilhada. Depois de falhar nos mundiais de 2012 e 2013, ele decidiu deixar o jogo após chegar a um nível baixo para si e para a NaJin. Ninguém sabia se aquele realmente seria o fim da estrada. Jogadores que haviam entrado no cenário profissional na mesma época de PraY já estavam caindo, seu antigo time estava sendo reconstruído e todo o cenário de League of Legends da Coreia estava mudando todo dia com novos jogadores aparecendo mais rápido do que nunca.

Quando PraY voltou ao jogo, ele entrou na equipe ao qual seria sempre visto como sinônimo: a Tigers. Primeiro Huya, depois GE até finalmente se tornar a ROX Tigers, PraY voltou às suas raízes com o último. Ao invés de ter a pressão de liderar uma franquia famosa a um mundial, ele se juntou a um time que jogadores que pensavam igual e que precisavam vencer qualificatórias contra talentos amadores para voltar à liga principal.

A Tigers conseguiu, e a partir daí o legado de PraY recomeçou do zero, rejuvenescido e cercado por colegas de equipe que se tornariam seus melhores amigos. Nos dois anos em que jogou pela Tigers, ele venceu 70% de suas partidas, criando a melhor dupla da rota inferior com o suporte Kang “GorillA” Beom-hyun.

PraY e Kang "GorillA" Beom-hyeon se abraçam durante o Mundial de 2016

Apesar de todo o sucesso, no entanto, a glória internacional nunca se materializou. A Tigers rachou ao fim de 2016, quando perdeu para a SKT em Nova York, com PraY e GorillA entrando na Longzhu Gaming na esperança de que um novo time poderia ter resultados melhores. Mais uma vez, PraY teve sucesso doméstico, até mesmo se vingando da SKT na final de uma etapa, mas tudo ruiu quando o time viajou para jogar fora.

A Longzhu perdeu nas quartas de final do mundial de 2017 apesar de ser a favorita a levar o título. Em 2018, ainda mais dominante e renomeada para King-Zone DragonX, a escalação chegou ao Mid-Season Invitational na Europa como o time a ser batida, apenas para desapontar e perder na grande final para a RNG. A equipe nunca se recuperou de sua derrota no MSI e falhou em se qualificar para o mundial do mesmo ano, perdendo para a Gen.G nas qualificatórias regionais da Coreia do Sul. No último jogo do atropelo de 3 a 0, PraY ficou 0/3/4 de Xayah.

Ninguém sabia na época, mas aquele seria o último jogo da carreira ilustre de PraY. Ele anunciou um período sabático no começo do ano para descansar, da mesma forma que fez em 2014. E, assim como em 2014, muitos acharam que ele voltaria, encontraria um novo time e se recriaria pela milésima vez, preparando-se mais uma vez para subir a colina com a rocha — e, desta vez, certamente chegando ao topo. Não haveria retorno, nem próxima vez.

PraY se aposenta com uma das melhores estatísticas do competitivo de League of Legends. Ele venceu 437 das 668 partidas profissionais que disputou. Quando falamos de seu arsenal de campeões, ele atingiu um .500 ou mais com cada atirador do jogo, com exceção de Draven com duas vitórias e quatro derrotas — nestes seis jogos, o combo foi chamado de “Prayven” pela terrível inaptidão do atirador com o campeão.

Kim "PraY" Jong-in disse em uma stream que está se aposentando do cenário competitivo de LoL

Ao longo dos anos, PraY, sorrindo nas cabines, sempre mostraria Draven como possível escolha, o público gritando em agonia a cada vez como um efeito de som em uma comédia de televisão, a câmera filmando seu sorriso maroto.

Quando criança, me disseram que você só se lembra dos vencedores. Daqueles que conseguiram os maiores prêmios de suas carreiras. Os campeões mundiais. Os perdedores, aqueles que nunca alcançam o topo, são eventualmente esquecidos.

Depois de crescido, eu discordo. Daqui alguns anos, as lembranças de alguns destes campeões mundiais podem desaparecer, mas não esquecerei de PraY. Nunca esquecerei da noite em que ele parou o Madison Square Garden e contagiou a plateia da mesma forma que Muhammad Ali fazia em seus dias de glória. Algumas vezes, com jogadores especiais como PraY, um título não é necessário para fazê-los se destacar.

Ele nunca precisou empurrar a rocha pela colina. Ele havia alcançado o topo há muito tempo.

(Tyler Erzberger / ESPN Brasil)

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