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Quando falamos sobre mulheres em qualquer área de trabalho ou esporte do mundo, uma das questões que é sempre abordada é a da representatividade. Como esperar que uma menina sonhe em se tornar uma astronauta, por exemplo, se ela não tiver exemplos de mulheres astronautas para se inspirar? O mesmo pode ser dito do esporte eletrônico.
Foi dessa percepção que a publicitária Bianca Muniz decidiu criar o Athena’s e-Sports, uma organização de League of Legends focada em ter uma equipe feminina. “Ao conhecer o mercado dos e-sports, vi a necessidade da representatividade feminina que existia nele. A partir daí, comecei a pensar em como eu podia fazer isso acontecer”, contou ao ESPN Esports Brasil no evento de apresentação da equipe.
“Com isso, criamos o projeto com conhecimentos de marketing e negócios e fizemos um plano do zero. Então, decidimos fazer o processo seletivo para conseguir encontrar as meninas que possuem potencial para serem jogadoras profissionais”, explica a agora CEO da Athena’s. “O primeiro passo foi um questionário online e aberto, e então separamos as jogadoras em times e elas participaram de uma seletiva que contou com final presencial em São Paulo”.
Para ajudar em tudo, a Athena’s recebeu a ajuda de um grande nome do mercado de tecnologia: a Intel. “A Intel abriu os braços 100% pra gente, desde que falamos que não tínhamos nada, que só precisávamos de um nome forte ao nosso lado. A ideia de darmos computadores às jogadoras, assim como a realização da final presencial e do evento de anúncio foi toda deles, como forma de posicionamento. A Intel foi praticamente uma mãe para o projeto”, diz Bianca.
Barbara Toledo, Gerente de Marketing da Intel Brasil, falou um pouco sobre como surgiu a ideia de apoiar o projeto para o ESPN Esports Brasil. Segundo ela, uma visita à Brasil Game Show deste ano mostrou que mesmo com o aumento do público feminino, ele ainda é pequeno.
“Nos dias que estive lá, não cruzei com nenhum time feminino”, lembra. “Então, quando o projeto veio, eu achei sensacional. Temos que trazer a discussão à tona para que as pessoas passem a prestar mais atenção nisso. Não adianta reclamar e não fazer nada estruturado, não falar sobre o assunto, não trazer dados, para discussão na sociedade. Quando trazemos isso para frente, temos a chance de mudar alguma coisa”.
O apoio, segundo Barbara, deve continuar conforme o projeto se desenvolve. “Nosso apoio e parceria após a escolha das meninas continua. A partir do momento que a Athena’s for definindo quais são as próximas fases do projeto, a gente vai sentar e negociar novamente. Mas a nossa ideia é acompanhar a evolução das meninas até elas chegarem à liga profissional”, diz a gerente de marketing.
Sobre o futuro do projeto, Bianca afirma que a organização não dará um passo maior que a perna. Primeiro, pretendem criar uma estrutura para as jogadores nos moldes de um gaming office com técnico e psicólogo. “Vamos criar uma rotina de treinos e horários para prepará-las. Para mostrar que estar na Athena’s é um compromisso e que é necessário comprometimento. Fazer com que elas ‘liguem’ essa parte profissional”, afirmou a CEO. “É prepará-las bem antes de um campeonato sério, até para não ser um baque, para não ser algo feito de qualquer jeito”.
Entre os planos para o futuro também estão conversas com a Riot Games para campeonatos femininos. No entanto, isso não acontecerá em um primeiro momentos. “Inicialmente, vamos começar com campeonatos amadores até para treino das meninas. Esses campeonatos mistos e amadores são importantes para que elas entendam como é se deparar com outros adversários de uma forma mais séria”, comentou.
É claro que não seria possível falar sobre a Athena’s eSports sem mencionar as jogadoras que venceram a seletiva e estarão com a organização na busca por uma maior representatividade feminina nos esportes eletrônicos. São elas: Bianca "DG Athena" Campolongo (topo), Nathalia "IRI" Akemi (caçadora), Tayna "Yatsu" dos Santos (meio), Luisa "Shyz" Minarelli (atiradora) e Juliana "Peeregrina" Steil (suporte).
Em conversa com o ESPN Esports Brasil, a caçadora Nathalia disse que jogar a seletiva foi algo emocionante e que agora a equipe poderá representar muitas meninas. “O que me deixa mais feliz é saber que posso estar sendo uma fonte de inspiração para outras meninas falarem: ‘caraca, quero começar a jogar sério’. Isso é muito bom”, afirmou.
Atuante no cenário amador desde 2014 como manager de times pequenos, Nathalia também é moderadora de um grupo feminino de League of Legends e participa da organização de torneios femininos. Segundo ela, fazer parte do Athena’s é um marco histórico pessoal e que seu objetivo no ano que vem será continuar a incentivar o cenário tanto como jogadora, quanto como organizadora.
“Nosso maior presente [da Athena’s] não são as conquistas individuais, mas o que a gente traz para o resto das meninas. Esse vai ser o meu objetivo: ser um exemplo para que as pessoas pensem ‘quero ser como ela. Sei que eu consigo porque ela conseguiu’”, explica.
A suporte Juliana também demonstrou a mesma felicidade por poder ser uma fonte de inspiração para outras meninas e se usou como um exemplo para a falta de representatividade. “Comecei a jogar em 2013, mas nunca pensei que tinha potencial para chegar no nível competitivo e mais profissional, principalmente porque não vemos muitas mulheres nele”, conta. “Essa coisa de representatividade é muito séria, porque quando a gente não vê [outra mulher lá], a gente não imagina que é capaz de chegar nesse espaço”.
A jogadora, que já havia participado de alguns campeonatos amadores, mas sem sucesso, se diz animada com as companheiras de equipe e com o futuro. “A partir do ano que vem, acredito que o início vai ser um pouquinho difícil a adaptação, porque vai ser outro nível de jogo, mas conto muito com o comprometimento de todas. Elas já demonstraram que dá pra confiar nelas e contar com elas, e é isso. Eu espero o melhor”, garante.
“A gente está abrindo as portas. É uma coisa muito doida de você pensar”, afirma Juliana. “A gente sabe que o cenário é enxuto, que não tem pessoas representando, e você tomar isso e ser a primeira é uma responsabilidade imensa. Tudo o que a gente fizer, as meninas vão assistir, vão ver e querer se espelhar. Então a gente tem que tomar muito cuidado a partir de agora com tudo que a gente faz, pensa, representa, e acredito que isso vai abrir muitas portas para as mulheres. É um efeito dominó. Vai ser incrível”.
Já Nathalia espera contar, também, com o apoio da Riot Games para o crescimento do cenário feminino de League of Legends. “O passo fundamental é que a Riot olhe para a gente com outros olhos e ver que vale a pena, que a gente consegue mostrar que tem força”, crava. “Vira e mexe você vê campeonatos femininos pequenos acontecendo. A gente existe, a gente está jogando. Mesmo com nick masculino a gente está aí, a gente quer nosso espaço. E se ela conseguir ver isso não só como visibilidade pra gente, mas como um negócio também, vai ser bom pra todo mundo”.
(Daniel Rigon / ESPN Brasil)